Hoje vi um filme onde uma consultora especializada em relacionamentos, radialista famosa, está preste a se casar com o seu editor, rapaz bem posicionado, bonito, requintado, de boa família e completamente dedicado à ela.
No meio do caminho ela se apaixona por um outro gostosão bem ao estilo ogro, barba por fazer, bombeiro da cidade de NY, daqueles que trocam tudo por uma partida de futebol ou de sinuca com os colegas. Vem de uma família simples de indianos e é a antítese total daquela moça bonita, escritora, refinada.
Após inúmeras peripécias, ela acaba se rendendo ao coração (e ao sexy bombeiro). Chuta o balde, desiste do casamento e fica com aquele “principe encantado montado num carro de bombeiros vermelho”. O noivo, desolado, aceita como um gentleman a decisão da amada e a entrega de bandeja ao outro bonitão.
Moral da história? Mais vale o amor do sonho do que o o amor real.
Sai do cinema pensativa. Sou casada há 25 anos e a minha relação já enfrentou chuvas, trovoadas e nevascas, mas sobrevive incólume. Em compensação, nunca foi apoiada em nenhuma paixão devastadora e sim construida por duas pessoas maduras e experientes, prontas para compreender e aceitar não apenas o glamour como também as rasteiras da vida.
Fiquei imaginando aquele casal daqui cinco anos, filhos remelentos pendurados na barra da saia da escritora. Noites insones esperando que o marido volte da sinuca com os rapazes, hálito de cerveja barata, procurando sexo doméstico. Domingos solitários, enquanto ele cochila diante da televisão.
Complicado esse nosso coração, não é? Imediatista, sofrendo de uma incorrigível miopia emocional, tantas vezes age sob o impulso descontrolado de uma paixão que já foi até estudada por cientistas famosos. Eles dizem que tanto tesão é hormonal e dura apenas seis meses. Mas o coração não acredita.
Amor real, amor idealizado. Todas as mídias vendem essas historinhas com um final feliz e o coração compra por que precisa, por que espera, por que tem que se alimentar da idéia de que no final tudo vai dar certo, que a felicidade existe, o coelhinho da Páscoa vai passar em companhia da Branca de Neve e do Papai Noel.
Até…