Tantas esquinas, tanta gente, tanta vida e, de vez em quando, ainda me surpreendo cometendo erros primários. Dizem os Astrólogos que a Lua na casa 4 de um Mapa, faz dessas coisas – criança para sempre. Em Áries, então, criança brigona.
Terça-feira de Carnaval. Até então não havia movido um cílio para entrar na festa e nem pretendia. Por conta dessa pouca disposição momesca, aluguei seis filmes. Já que o marido estava fora e a filha também, eu ficaria linda e loira, na companhia silenciosa dos meus três gatos e de uma porção de histórias ainda não assistidas.
Mas, voltando à terça-feira. Já havia assistido todos os DVD’s e o prazo de entrega na locadora era até às 19hs do bendito dia. Aquarianamente me lembrei desse detalhe às 18hs30, é claro! – Putz! Vou ter que pagar uma grana, se não entregar hoje! – Pensei irritada.
Vesti qualquer coisa e sai. Doze andares abaixo e uma portaria afora, me vi completamente envolvida por um bloco (vocês vão perguntar: – Mas você não ouviu? Não. Estava com fones de ouvidos ligados no último volume, em Marcela Mangabeira.).
O Cachorro Cansado desfilava pela minha rua. Centenas, milhares, se duvidar, de pessoas de todas as tribos e hordas. Um trio elétrico acima de qualquer capacidade auditiva e bêbados…Muitos.
E agora? A ariana que habita em mim, decidiu: – Vou nessa, que se dane!
E sai na direção contrária ao bloco, rua cima, desesperada. Empurrei, fui empurrada, pisei em coisas indeterminadas – pés, latas, mijo, até um cachorro não escapou da minha pressa. No caminho, me senti mal. O suor brotava e encharcava a minha roupa. A cabeça começou a latejar, mas eu? Continuei a marcha cega em direção à locadora. Agora, era eu contra o bloco! Morrer, se preciso for, mas desistir? Jamais!
Finalmente, cheguei. A moça no balcão me olhava surpresa. Acho que era a minha cara de desespero e o tremor incontrolável das mãos, ao depositar os DVD’s diante dela.
Sai da loja e sentei numa lanchonete dentro da galeria. Pedi um refrigerante e pensei:
– Aimeusdeuses! E se eu tiver um treco, quem vai me socorrer? E as mãos tremiam.
Aos poucos, fui me acalmando. A galeria estava com as portas fechadas, até que o bloco passasse e me senti segura.
De repente, um pensamento se instalou na minha cabeça:
Assim também acontece na vida. Quantas vezes andei e ainda ando, na contramão, lutando por algum objetivo distante, quase impossível. Buscando me adaptar a situações improváveis, enfrentando obstáculos, na maior parte do tempo insignificantes – os DVD’s atrasados custariam apenas vinte e oito reais – Aturando pessoas que não me acrescentam nada, seja por preguiça, interesse tolo, vaidade, ou almejando o meu crescimento espiritual? Isso, sem falar que, na maioria das vezes, ao chegar ao tal destino, a recompensa é amarga, pequena, ínfima, cansativa, desprovida de tesão. Restam apenas as mãos trêmulas de cansaço e frustração.
Por que? Para que? Esse não é o bom combate. É miopia emocional mesmo.
Eu tive uma empregada analfabeta. Ela era muito engraçada, com seus provérbios sempre na ponta da língua, muitos, inventados na hora. Certa vez ela me disse:
– Dona Glória, a gente vai prá onde a canoa quer ir.
Confesso que fiquei um pouco decepcionada comigo mesma e mais ainda, ao lembrar, que era só sair pela garagem do meu prédio e estaria numa rua lateral que me levaria ao mesmo destino. Mas não. Como um burro de antolhos nem pensei na hipótese.
Bem, e para testar a minha teoria, decidi pegar a mesma rua e andar atrás do bloco, que aos poucos se desfazia, até a minha porta, um quarteirão adiante. Foi uma maravilha! Todos na mesma direção, obedientes como ovelhas, a maioria, certamente, pedindo cama. Cheguei.
Sei que alguns podem pensar:
– Quer dizer que não vale a pena o desafio, a luta? O melhor mesmo é ir em frente, seguindo a manada? Alienados? Medíocres?
Não, é claro, mas, a cada vez que você se dispuser a enfrentar um desafio, certifique-se se não está gastando a energia Divina em você, apenas para entregar uns tantos DVD”s numa terça-feira de Carnaval.
Fica a dica.
só eu posso comentar. AAAhh Cachorro Cansado é o orgulho do famengo. era melhor qdo era menor. Fui nos 2 dias. Eu e Boeing, meu cachorro . alias, fui no 1 dia, tava mais vazio e + legal, fui só, e voltei. No domingo, desfigurou.;; só tinha cerv. Antartica, lotado. voltei correndo. retiro no carnaval. Não aguento + muvuca, Fico atônita e tonta. agora vai começar o ano
bjo
P.S.: No carro de som tinha uma cantora meio baiana e som de PIANO, pode
fatima
Sabe, Glória, nas mãos únicas e contra-mãos da história, de um carnaval que como sempre foi violento e turbulento, creio que como você disse o importante é não perder o tesão, manter o entusiasmo, ter equilíbrio sim, mas lembrar que a festa muitas vezes é melhor que a tristeza de um carnaval sem alegria. Gosto de viver a vida com tesão. O resto é consequência. Com tesão, o nosso cotidiano tem mais sabor, mais fervor e calor, motivação e alegria. Sim, Glória , não faça da vida uma Noite. Dentro de toda Noite, sempre há uma luz a brilhar. Beijos. Chico