Ontem, assistindo a mais um episódio de House, ouvi a seguinte frase do rabugento e dolorido doutor. Na série, ele é um gênio da Medicina torturado por uma dor crônica em uma das pernas e viciado em analgésicos.
“- Muitos pensam que podem vencer a dor. Isso é mentira”
Conheço muitas histórias de pessoas que convivem com dores crônicas oriundas das mais variadas doenças. Elas trabalham quando podem, experimentam os mais variados tratamentos, sorriem amarelo, cumprimentam todos, chegam até a fazer sucesso na vida, mas se você prestar bem atenção no fundo dos olhos do nosso dolorido, verá que o brilho se foi. Estão mortas. Mortas de dor.
A dor crônica é uma sensação de impotência, frustração, depressão, ressentimento, ódio e pessimismo. O que deveria ser um aviso temporário, um alarme de um corpo saudável, se transforma num demônio impiedoso
A dor é um fantasma anti-social – ninguém gosta de ouvir falar. Se alguém reclama mais do que uma vez, aquele que não sente nada já comenta:
– Ih, lá vem aquele chato. Vive se queixando de que dói ali, dói acolá.
Hoje conversava com uma fisioterapeuta experiente sobre esse assunto: Por que alguns suportam melhor a dor e outros não?
Daí ela relatou que algumas pessoas têm essa capacidade de abstrair a dor, lutar contra ela, negá-la, até.
– É um trabalho árduo, coisa de gente muito forte, disse a doutora.
Aqui com os meus leigos botões comecei a ter uma idéia meio maluca. Serão mesmo tão fortes e iluminados os que dizem controlar a própria dor?
Senão vejamos:
Existe a categoria dos crentes, aqueles que pensam que a dor é uma provação Divina. Que ao senti-la estão ultrapassando os limites do corpo e vivendo mais pertinho de Deus. Na própria Bíblia existe um provérbio: – Se não aprendes pelo amor, aprendes pela dor. E eles se julgam sábios. Exemplos vivos de perseverança. Agora me ocorreu a saga dos mártires. Eles estão nos calendários religiosos, mas também habitam entre nós.
Outra categoria é a dos arrogantes, que se recusam em admitir suas dores – pega mal, parece coisa de gente fraca, é melhor disfarçar. Posam de heróis, nunca reclamam, mas transformam num inferno a vida dos que convivem com ele. Aqui mesmo no meu prédio mora um velhinho que sofre de uma artrite cruel e por conta disso, vive processando os vizinhos que têm cachorros, inventando vazamentos, agredindo funcionários, ameaçando céus e terras. Quando nossos olhares se encontram no elevador, eu vejo aquela mesma expressão apagada. Morto. Morto de dor. Mas ele não se confessa. Ninguém tem nada com isso, não é?
Outros são legítimos masoquistas e o próprio termo já os define.
A Medicina faz o que pode e também cobra alto, esvaziando os pobres bolsos doloridos – já existem inúmeras “clínicas de dor”, mas, até agora, pouco avançaram nesse quesito. Morfina, acupuntura, fisioterapia, antidepressivos e por ai afora, pouco contribuíram para vencer essa inimiga implacável.
Será a dor crônica um fato isolado, inerente apenas ao corpo quando se torna disfuncional? Uma degeneração natural causada pela idade, pelos maus hábitos?
Fico matutando se a dor crônica também não tem origem em sentimentos acumulados ao longo dos anos. Tipo perdas, ressentimentos, frustrações, abandonos, desamores, infância desvalida. O ilustre Dr. Bach, o dos florais, já dizia que não existem doenças e sim doentes. As pessoas adoecem a alma, para depois manifestarem os resultados no corpo.
Daí, será que a dor também não é proporcional a esse passado? Ao peso desse saco de tristezas?
Ai um dia, você machuca alguma coisa, torce um pé e ….A dor não passa. Fica enorme, desespera, se espalha por outros lugares, tira o sono, a vontade de viver. Não, não pode ser apenas uma entorse. Acho que é o tamanho do saco de tristezas acumuladas que se aninha maldosamente naquele lugarzinho de nada e fica pesando no corpo e na alma até sabe-se lá quando.
Estou com o House.
E vocês?
Genial, minha querida… Consegui enxergar perfeitamente algumas pessoas de meu convívio que vivem há anos com dor. Tem as que levam na esportiva e riem de si mesmas, tem as que ficam caladinhas e vc nem percebe que estão no perrengue, tem as que ficam mal-humoradas com o mundo… Mas todas elas, sem exceção, têm uma passado de dores também. Dores da alma…
Acredito, porém, que ainda dá tempo de reverter isso. Uma das pessoas com dor que eu conheço tem feito uma transformação pessoal e espiritual muito bacana. E não é que está melhorando das dores? Brilhinho nos olhos voltando…
Bom seria se todos os doloridos crônicos buscassem mais ajuda em terapias etc. e menos nos analgésicos…
Glória, arrasou! Sou cada vez mais sua fã, até pq vc me ajudou muito a vencer uma dor no coração muito forte que eu vinha sentindo… Bruxinha curadora!
Beijos!
Obrigada, amada! Espero que em breve Deus me conceda o direito de curar também as minhas. Te amo!
Sabe, Glória,fico aqui pensando nas dores que também sinto,resquícios de um peso enorme…e de dores da alma, que refletem no corpo,porque já não tenho mais dúvidas de que,quando a gente está com alguma coisa emocional mal resolvida, tem uma tendência ainda maior de jogar isso no corpo, nos pobres ossos que nos jogam no leito…e o círculo vicioso se forma: dor na cuca,dor no corpo, desânimo pra tudo, daí vêm as gripes, as dores de garganta, as outras inflamações…
De repente, tem mais coisa “inflamada”na essência…e aí, como se “quebra” esse ciclo que tanto nos prejudica???
Se vocês descobrirem,por favor, me avisem, que aqui tamém está doendo(muito)…
Melhoras , maga…
Beijosssssssss com saudadessssssssss…
Iza
Iza, querida. Acabou de me ocorrer que, uma das formas de amenizar a dor é falar sobre ela. Fazer o que eu fiz; elaborar, xingar, reclamar, chorar, escrever, numa catarse maluca como se estivéssemos numa sessão de psicanálise onde o terapeuta é ELA – A DOR. Vou te contar um segredo: Sempre que me encontro diante de uma autoridade, daquelas bem fodonas, sabe o que faço para não morrer de medo e timidez? Fico olhando para ela e imaginando que está no banheiro, sentada no vaso, ou tirando meleca do nariz, ou se defendendo da bronca da patroa. Sempre adianta. É claro que no caso em questão não é tão eficaz, mas, já quebra um galho, né? Vamos avacalhar a DOR!
Você me fez repensar algumas coisas com seu texto. Acho que todo mundo conhece ou convive com alguém assim e a forma clara como vc analisou a dor me ajudou a compreender melhor os comportamentos e atitudes dessas pessoas. Trabalhei em hospitais e ajudei a tratar de pessoas com dores crônicas, e você realmente soube identificar esses tipos básicos de forma de se lidar com a dor. Não sei de onde você sacou essa “classificação”, mas acertou na mosca!
Muito bom!
Bjs
De onde eu saquei, Fernando? Vou responder com um velho ditado indígena: Quer conhecer alguém? Atravesse um deserto usando os seus mocassins. Há muito estou atravessando…´Sou índio, deserto e mocassim.Obrigada pelo comentário. Bjussss
São tantas dores….e dissabores.
É Glória, vc tem razão qdo diz que falar sobre a dor ajuda…fui adestrada a me retrair e o resultado não poderia ser diferente..um universo de celulas queixosas e rebeldes.
Tenho refletido sobre o que escreveu…..quer saber? Vc é daquelas pessoas que faz realmente a diferença!!!!
Bjs mil
Glória,lindo o seu texto.Muito coerente as suas palavras,acho que carregamos muitas “dores” emocionais que fortalecem a dor física.Acho também que temos que procurar como vc disse sempre ajuda espiritual e até na terapia mesmo e com certeza veremos “brilhinho nos olhos voltando…”
beijos!Ester(amiga da Paula)
Descrever a dor é uma tarefa difícil. Falar de dor é muito doido!!!
No Wiquipédia o resumo é este:
• Dor é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação orgânica e/ou emocional.
Só sei que a intensidade com que pessoas diferentes sentem e reagem a situações semelhantes causadoras de dor é incrível, dificil de descrever. Artur da Távola diz em um dos seus textos: A GENTE SÓ SABE O QUE JÁ SENTIU.
A dor é sempre subjetiva,cada um de nós explica a sua da sua maneira através de suas experiências, aí a dor é aquela experiência que associamos com coisas que nem gostamos de lembrar. Dizem que sou uma pessoa que tem resistência à dor mas sinto que a dor é um incomodo extremamente necessário. É o sinal de alarme de que algum coisa está esquisita, dando defeito mesimo!!rsrsr
Esta questão de ser resistente tem me causado sérios problemas, quando reclamo ás vezes o problema já cresceu mais do que deveria!.
Procurando falar de dor, acho que só fica bom mesmo em música rsrsr
Sorri quando a dor te torturar, e a saudade atormentar,os teus dias tristonhos vazios
Sorri vai mentindo a sua dor, e ao notar que tu sorris,todo mundo irá supor, que és feliz
Escreveu Chaplin….
E Chico???
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa.
É na poesia dizia Drummond: A dor é inevitável,O sofrimento é opcional!!
Não importa a dor ou o momento que você está passando, você tem um compromisso com a vida. A fase ruim vai passar, sei que a dor chega sem pedir licença, sem cerimônia, sem avisar que vinha aí resta o choro, a tristeza e a dor..
Quanto mais rápido a gente tentar reconstruir nossa “casa”, nosso “corpo”, mais rápido a felicidade volta e esquecemos a dor. Nesses momentos de reconstrução, os amigos são os melhores ajudantes que precisamos. Mas, continue mesmo com dor, rsrs reconstruindo sua casa, digo, a sua vida. A dor se torna menor quando não deixamos muitas lembranças em nossa porta.
E lembrando de minhas dores….
A dor me ensinou que…
Os melhores momentos da vida não são necessariamente os mais agradáveis. São os mais expressivos,dos risos e lágrimas; presenças e ausências; das dores vividas… Dor de não saber como vai ser a próxima hora, só escutando os barulhinhos do CTI, momentos que me despertaram de um sono esquisito e me levaram a força a me tornar um novo ser , para seguir nesta vida menos apegada às coisas triviais e mais comprometida com os valores essenciais desta jóia preciosa chamada vida.
Pela dor percebi que caminhar é preciso, mesmo que seja sobre brasas…
Então amiga: FORÇA EM TODAS AS PERUCAS, VAI PASSAR!!!!
Eneida, obrigada pelo lindo texto. Sei que, em matéria de dor, você é pós-graduada e não faz parte de nenhuma das categorias descritas. A sua é especial. Categoria das pessoas que eu mais amo; a das generosas, consigo e com a vida.