No cabeleireiro, com minha filha Paula, assisti a uma cena, no mínimo, deplorável:
Uma filha, com cara de quem havia tomado “todas” logo no começo da tarde, chegou com a mãe, uma senhora com fartos cabelos brancos, aparência distinta.
Como se a idosa fosse muda, a “maluquinhadaestrela” anunciou em altos brados:
– Trouxe mamãe para cuidar da beleza!!!
Com a senhora já acomodada na cadeira, meu amigo Carlinhos, iniciou o seu trabalho, cortando, penteando aqueles lindos cabelos Enquanto isso, a filha rodeava a senhora como um pavão, dando pitacos, olhando em volta para ver se alguém estava prestando atenção ao quanto ela era dedicada à mãezinha querida, num verdadeiro show de inconveniência. E a velhinha lá, calada como uma esfinge, lúcida como uma águia, os olhos azuis um tanto aflitos.
Terminado o espetáculo, não satisfeita com o vexame, a moça arrastou a mãe para o fundo do salão, interrompendo o trabalho dos profissionais e procurando Carlinhos, que já estava novamente ocupado com a minha filha, segurando-o pelo braço, disparou:
– Ai, a mamãe está tão lindinha! Será que você pode tirar uma foto com ela?
Ele, pouco à vontade, largou o que estava fazendo e, num gesto de gentileza, abraçou a senhorinha e, exibindo o seu melhor sorriso, posou para a foto. E a velhinha calada estava, calada ficou.
E lá se foram as duas, braços dados, sob elogios das outras clientes e muitas exclamações da filha:
– Mas vocês não acham que ela está lindinha?
Fiquei pensando:
Por que será que as pessoas, numa certa etapa da vida de seus pais, os tratam como se fossem deficientes mentais? Existe uma cultura medonha de ver o idoso como um dependente, alguém que não consegue tomar suas decisões, interagir com os demais. É como se precisassem de intérpretes por que falam outra língua – a língua do velho. E o que é pior; são desrespeitados em suas vontades e opiniões, contestados em seus desejos, calados em sua enorme experiência de vida. Com o tempo, por fragilidade, medo ou simplesmente falta de saco, acabam se rendendo e calando.
Fica aqui um aviso: Não confundam amor com submissão; respeito com opressão; cuidados com invasão de direitos.
Se eu fosse aquela velhinha, tiraria a roupa no salão e sairia dançando a Macarena, cantando como uma louca.
Ainda bem que sou aquariana. Jamais ficarei velha, apenas doidinha e irreverente. Se chegar aos 90, vocês poderão me encontrar do outro lado da rua do salão, visitando o meu tatuador Acir, fazendo uma nova tatuagem com o símbolo: SINCE 1951!
Até!…