Místicos não são hereges. Somos apenas crianças, aprendizes, peregrinos. Acho que a nossa melhor definição foi escrita, talvez até de forma não intencional, por um mestre da música. Assim, com humildade faço minhas as suas palavras.
Por tanto amor, por tanta emoção,
A vida me fez assim.
Louco ou atroz, manso ou feroz,
Eu, caçador de mim…
…Nada a temer, senão o poder da luta.
Nada a fazer, senão esquecer o medo.
Abrir o peito à força numa procura,
Fugir às armadilhas da mata escura.
Longe se vai sonhando demais,
Mas aonde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir,
Eu, caçador de mim.
(trecho da música “Caçador de mim”, de Fernando Brant e Milton Nascimento)
A Religião sempre foi um tema instigante para mim
Reconheço, nunca fui uma ovelha fácil. Lembro mesmo de, bem mais tarde, Dom Eugênio Bittencourt em suas fabulosas aulas de Teologia, me chamar de “desgarrada do rebanho”. Meu outro queridinho, pastor Jonas Rezende, certa vez advertiu-me que fé é dogma – você aceita ou cai fora. Mas hoje sei. Não era heresia não. Era só a busca de conceitos que satisfizessem a minha enorme necessidade de crer, me sentir protegida, fazer parte de algo maior.
Em busca da resposta, transitei por muitas crenças além da católica, onde nasci. Dos centros de mesa, Umbanda e Candomblé, às reuniões de neo-religiões, como a Ponte para a Liberdade. Da primitiva Wicca as ordens de Magia Tradicional. Perambulei entre livros de Aleister Crowley, Papus, Flamel, Mebes, Eliphas Levi, Helena Blavastky e outras figuras igualmente representativas. Li a Bíblia de cabo a rabo, o Baghavad Ghita, o Livro dos Espíritos, entre tantos outros. Onde estava o MEU Deus? O Pai que iria cuidar de mim? A Mãe que me protegeria do medo e me abasteceria de amor incondicional?
Mas não pensem que, por interessar-me tanto pelo Esoterismo, minha vida foi monástica, contemplativa. Muito cedo caí no mundo e não tive tempo para viver nesse doce e reconfortante oásis. Ao contrário, tudo o que aprendi e ainda aprendo, sempre funcionou como uma lente de aumento, usada para enxergar as agitadas situações do dia-a-dia, sob um ponto de vista mais amplo.
Quando escolhi a profissão de taróloga e astróloga, após uma bem sucedida (para os outros) carreira institucional, estava consciente de que o meu trabalho estaria definitivamente ligado à interpretação dos símbolos contidos no inconsciente das pessoas. Queria ser um espelho, para que elas pudessem contemplar suas dificuldades e talentos, facilitando suas trajetórias nessa vida e como espelho elas também me devolveriam essa visão. As questões metafísicas ocupavam um lugar de respeito na minha lista de prioridades. Mas a experiência foi o que veio sacramentar essa posição.
É sobre isso que pretendo falar. Não quero transformar esse livro num tratado. A bibliografia estará no final, para os que desejarem se aprofundar no tema. Só não resisti foi em dedicar um pequeno capítulo aos Oráculos, minha eterna paixão.
O toque especial fica por conta do depoimento de convidados ilustres e desconhecidos, aos quais dedico um agradecimento especial, que também escolheram trilhar caminhos muito pessoais, pouco ortodoxos, mas nem por isso, menos louváveis.