O bairro onde eu moro é habitado por um número grande de idosos. Funcionários públicos aposentados, viúvas desfrutando de gordas pensões, enfim, todos os dias podemos encontrá-los nos mercados mais de uma vez por dia, às vezes enfrentando filas quilométricas só para comprar um pão, mas eu acho mesmo é que eles adoram comprar uma briga. Se juntam no caixa para falar mal do atendimento:
– Essa menina é uma lerda!
– Estou aqui há mais de DUAS horas!
Alguns chegam a gritar aos quatro ventos: Cumequié, essa fila anda ou não anda?
Isso sem falar nos que frequentam assiduamente os bancos, para retirar extratos e conferir se ninguém roubou o seu rico dinheirinho de um dia para o outro.
E haja paciência.
A minha história de hoje, aconteceu numa dessas agências bancárias, na fila de atendimento preferencial.
Cheguei com os joelhos em frangalhos e sentei numa das cadeiras que ficam enfileiradas na parede para que os idosos esperem a sua vez. Já havia marcado, com uma senhora, o meu lugar na outra fila (ano que vem já terei o direito de frequentar esse espaço).
Bem, a fila foi crescendo e, lá na frente, uma senhorinha tentava cadastrar uma nova senha. O caixa, que será canonizado assim que morrer, ensinava à senhora calmamente:
– Escolha um número fácil de guardar e digite nesse teclado.
A velhinha pensava, pensava e digitava.
– Agora, é só digitar novamente o mesmo número, senhora.
E a velhinha se concentrava e …digitava um número diferente! E assim foi, uma, duas, três, quatro, muitas vezes. E a fila engrossando. Eu alí sentada sem nenhuma pressa nenhuma, observava divertida as caras e bocas dos vovôs e vovós, que cochichavam entre si:
– Tá vendo? Essa mulher deve ser doida. Um absurdo termos que esperar tanto. Logo eu que operei o joelho recentemente.
– Ih, isso não é nada – devolveu uma senhora com ares orgulhosos – eu operei uma hérnia de disco há dois meses e estou aqui.
Nisso, uma mulher ainda jovem entrou no banco com uma aparência perfeitamente normal, bonita e bem vestida. Mas, ao se deparar com a enorme fila que volteava pela agência, assumiu ares de doente e mancando instantaneamente, se dirigiu à fila preferencial:
– Senhoras e senhores, estou muito doente, com um grave problema de coluna – mentiu deslavadamente – só preciso pagar o meu IPTU. Será que poderia passar a frente de vocês?
Do alto dos seu oitenta e muitos anos, uma velhinha de olhos azuis, mais atenta do que uma águia, piscou o olho para a amiga de fila e respondeu:
– Bem, se TODOS concordarem, a senhora pode passar sim e dirigiu à todos nós um olhar de deboche tão grande, que não me contive; desatei a rir. E comigo, todos os que estavam ali. A mulher saiu envergonhada e entrou na fila certa.
Vocês sabem que sou aquariana, desligada, perdidas em meus pensamentos, a rainha das
gafes. Ocupada que estava em observar a velhinha que tentava digitar a tal senha, ouvi ao longe a senhora de olhinhos azuis comentar bem alto na direção da farsante:
– Quando,eu tive crise de coluna, o meu médico receitou injeções de procaína.
Quase pulei da cadeira.
– COCAÍNA? Como assim? – perguntei à vovó que, indignada, quase me plantou a bolsa na cara.
– Que cocaína, minha senhora! PROCAÍNA! A senhora acha que eu tenho cara de tomar cocaína?
E eu, morta de vergonha, respondi cabisbaixa e murmurante:
– Bem, mas se o médico mandasse, né? …
Graças a Deus chegou a minha vez na outra fila. Sai rapidinho da cadeira enquanto um segundo caixa preferencial era aberto para atender aos velhinhos, posto que, aquela senhora do início da história, ainda não havia conseguido cadastrar a tal senha.
E mais uma tarde se passou nesse bairro delicioso com seus velhinhos muito espertos.
Até…
Oi Glória,
adorei a história das velhinhas.
Um grande beijo.
Marisa.
Oi, Glória!! : D
Amei o texto dos velhinhos!! Hahaha!! ; )
Beijos e muito obrigada mais uma vez!! : )
Marcela
Cumequié?????? Vc sentada esperando sua vez na fila??? Pagou propina pra alguém tomar conta do seu lugar?? KKKKKK!!!! Muito folgada, kkkkkkk!!!! Confesso que achei que as velhinhas iam te detonar tb, rsrsrsrs!
O maior espanto dessa história foi descobrir que vc, no ano que vem, entra na categoria “terceira idade”. É RUIM, HEIN???? GLÓRIA BRITHO SERÁ SEMPRE UMA ETERNA ADOLESCENTE!!!!
Beijos com carinho!