Início de tarde, calor escaldante e eu doida para ir para casa. Entrei num táxi e suspirei aliviada: – Obrigada, meu Deus pelo ar-condicionado-de-cada-dia!
Parada no sinal da Dois de Dezembro, me surpreendi com um inesperado colega de viagem. Um velhinho com óculos de Mister Magoo, bengala e aparelho de surdez (depois conclui que estava desligado), abriu a porta dianteira do táxi:
– Senhor, estou com uma passageira, disse o motorista educadamente.
– Sim, passageiro, eu sou um passageiro.
Bateu a porta e disse com ares severos:
– Me leve na Senador Vergueiro, 257
– Mas senhor, o táxi está ocupado …
E o velhinho:
– Claro, eu já fechei a porta. Vamos lá!
No banco de trás, eu ria de perder o fôlego. O motorista me lançou um olhar desesperado e eu, num misto de bom humor e respeito pelo vovô, me apressei em acalmá-lo:
– Não tem importância, eu também vou para a Senador Vergueiro. Vamos dar uma carona para o nosso amiguinho.
Aliviado, o taxista partiu rumo ao endereço indicado pelo senhor que, em nenhum momento se deu conta da minha presença. Eu, quietinha, me resignei a condição de ” o fantasma do táxi”.
Ao chegarmos na porta do 257, nosso carona, muito empertigado, sacou do bolso uma nota de dez reais para pagar a sua corrida. O motorista me lançou um outro olhas, dessa vez, de dúvida. Balancei a cabeça negativamente e bati de leve no ombro do velho:
– Não precisa não, amigo, hoje você é meu convidado. Deixe que eu pago.
Ao sentir o tapinha, ele olhou supreso para o banco de trás, arregalou os olhinhos míopes e disse:
– Olá!!!! Obrigado!
Desceu e ficou um minuto na calçada olhando para a nota de dez e para o táxi, sem entender o que havia acontecido.
Eu e o motorista custamos a nos recuperar das gargalhadas e quando ele engrenou a primeira para me levar em casa, vocês acreditam? Um outro velhinho abriu a porta do meu lado e, ao ver o banco ocupado, disse:
– Desculpe, eu não vi a senhora!
Voei para casa, pensando bobagens do tipo:
– Meu Deus, é o ataque dos velhinhos do Flamengo! E ri, ri muito, ri tanto que quase fiz xixi nas calças.
Agora estou aqui para contar essa história que parece saída de um livro de ficção e também para agradecer aos anônimos velhinhos pelos momentos de alegria que me proporcionaram. Um dia eu chego lá.
Taxistas, preparem-se!!!
Será que esses dois vovôs não perceberam que tão ilustre passageira era ninguém menos que a maior astróloga do Brasil, Glória Britho? Mesmo carrancudinhos, eles merecem uma salva de palmas pelo muito que fizeram ao longo da vida.
Também vamos ficar velhinhos de bengala – se o destino permitir – e, por vezes, mal humoradinhos…
Caraca !!! Muito engraçado !!!
Será que vc estava tão passada c/ alguma situação que ficou transparente?
Ou será que os velhinhos estavam afim de te dar uma cantada e levar vc p/ casa?
Ou será mesmo uma dose dupla caprichadíssima de “gagazice” ?
Seja lá o que for eu morri de rir de imaginar seus olhinhos para os velhinhos. KKKKKK
Muito bom !!!
Adorei a história! Fiquei imaginando essa cena num filme de comédia rasgada, daquelas que a gente ri tanto que escorrega da poltrona do cinema…
Não dá para parar de rir imaginando a cena! Sorte deles que você não estava ” com defeito” nem “rabugenta” rsrsr
Mas será que não era a vingança do IDOSO por apropriação indebita de filas rsrsrsrs
Eneida