Estamos recém-inaugurando mais um milênio, 2010 ainda é criança, e o homem, em que pese toda a evolução científica e tecnológica, ainda não encontrou a resposta para o grande enigma de Saturno: Quem sou, de onde vim, para onde vou? Existe um forte retrocesso da alma e a perda da confiança nas estruturas aparentemente tão seguras. Um genuíno declínio da civilização que um dia foi chamada de “A Nova Era de Ouro”.
As bancas de jornal e as livrarias foram invadidas por uma avalanche de “as orações mais poderosas”, a vida de santos e mártires, anjos e mais anjos, mini bíblias, terços bizantinos, enfim, um arsenal de informações e artefatos capazes de proteger e reabilitar até o mais deslavado herege arrependido. Nas lojas antes “esotéricas” imagens de santos e anjinhos bochechudos, dividem espaço com gnomos sorridentes e Budas perplexos.
Dos Estados Unidos nos chegam notícias de que seitas escatológicas voltam a carga afirmando que o fim do mundo está próximo, num rasgo de oportunismo, após o incidente de 11 de setembro, que lançou o povo americano na mais negra insegurança. Os maias voltam ao cenário, bem como o livro do Apocalipse, discutido até por adolescentes antes preocupados apenas com baladas, academias e “rolos”.
E Maria, a Virgem, a Doce Mãe Divina, ressurge com força total e mais uma vez a mídia, por ausência de pauta, criatividade ou com a intenção de escamotear outras verdades, se ocupa em explorar, em matérias sensacionalistas, a figura daquela que jamais pleiteou o estrelato, ao contrário, esteve sempre em posição discreta, amorosa, receptiva, pronta a acolher seus filhos, nutri-los e protege-los das ameaças e perigos dessa vida. Maria está sendo elevada à duvidosa condição de “top model da fé”.
Os horrores das guerras, doenças, violência urbana, fome, desemprego, incompetência e desonestidade dos líderes mundiais, atingem proporções descomunais. Empresas consideradas sólidas estão ruindo aos olhos do mundo, revelando suas falcatruas, numa verdadeira febre de “redenção”.
E o homem está com medo. Um medo enorme, paralisante, aterrador e como sempre, nesses momentos, a mente coletiva tenta engendrar um novo mito do “salvador da pátria”. Quem poderia ser tal figura? O Super-Homem está velho e casado, Hércules há muito pendurou a clava, O Fantasma recolheu-se ao recesso de sua caverna. Os grandes homens da História morreram ou arruinaram-se lutando por suas causas. Aimeudeus, e agora? Suplica apavorado o “ptecantropos erectus”. Eu quero a minha mãe!
A fé não é um fenômeno coletivo. Histeria sim. A fé é uma entrega do coração. É a certeza de que, na alegria ou na miséria, estamos sempre amparados. É nos sentirmos as crianças do Criador, aprendizes sobre a Terra, livres para escrever nossas histórias, mas igualmente responsáveis por nossos atos.
Uma conduta ética, no sentido mais amplo e nobre da palavra, é o verdadeiro caminho da redenção. Que me perdoe Lutero, só fé, não salva.
Concordo plenamente! Fé tem que vir acompanhada de ação. É isso o que procuro fazer no meu dia-a-dia. Tá certo que a fé remove montanhas… Mas alguém tem que dar o empurrãozinho!!!
Adorei seu texto, sempre tão reflexivo, fazendo de nós, seus leitores, seres pensantes (e atuantes!).
E, cá entre nós, “top model da fé” foi óóóóóóóótimo. Sua cara inventar uma maluquice dessa, kkkk!
Beijos!