Noutro dia, conversando com a minha Psicóloga, Daniella Righetti, que lia um dos meus livros, A Metade Negra dos Signos, recebi o que considero um elogio.
– Quando li o seu texto, a impressão que me deu era que você estava diante de mim falando.
Sim, nem poderia ser diferente, afinal, sou o que escrevo, sou real, carne e ossos, estrada
longa trilhada com a alma, suor, sangue, alegrias, decepções, tropeços e descobertas.
Corte para os textos do jovem astrólogo Bruno Bernardes. Ele emprega uma linguagem
coloquial sem, contudo parecer pedante. A impressão que me dá é que ele está aqui na minha
sala falando comigo. Sinto que o seu discurso, além do acadêmico, é fruto de observação
aguda, sensibilidade, mergulho profundo em seus infernos e paraísos.
Nei Naiff, um tarólogo de renome internacional, autor de inúmeros livros, também é ótimo
exemplo de uma linguagem que combina conhecimento, sabedoria, vivência. Somos
companheiros de estrada há algumas décadas e jamais observei nele um traço de pedantismo.
Sabem por quê? Ele vive o que faz, é o que prega.
No início da minha carreira como Astróloga e Taróloga, bebi em fontes preciosas, algumas de
simplicidade adorável, certeira e acadêmica, como a virginiana Anna Maria Costa Ribeiro.
Outras de uma complexidade assustadora, como Eliphas Levi, G.O. Mebes, Papus, Trimegistro,
Fulcanelli, Flamel. Outras ainda mais excêntricas, como Aleister Crowley e e Madame
Blavatsky, Jung, Freud e por aí vai. Todavia, jamais me deixei capturar por essa ou aquela linha
de pensamento. Afinal, que aquariana seria eu, não é?
Aos poucos fui internalizando esses saberes e produzindo um saber particular, uma ética
individual, fruto de observação do cotidiano das pessoas e da minha própria vida. Todos esses
mestres funcionaram como chaves para o mais profundo dentro de mim. É por isso que opto
por uma linguagem que tem a ver com a realidade objetiva, sem chavões, títulos pomposos,
convites meramente comerciais. Certa? Errada? Não sei e não saberei, mas essa aqui sou eu,
sem místicas, descrente de “milagres quânticos”, certa de que nada, absolutamente nada, vai
acontecer sem a minha intenção honesta de fazer acontecer, ainda que isso custe noites
insones, lágrimas e ranger de dentes. Não ambiciono ser um mito, quero apenas viver e
compartilhar experiências reais com amigos, leitores e alunos.
De outro lado, observo uma tendência crescente ao academicismo mercenário, especialmente
de jovens, dispostos a impressionar possíveis admiradores incautos. Eles leem meia dúzia de
obras de verdadeiros acadêmicos e saem por aí utilizando uma linguagem empolada,
pretenciosa, repleta de citações atribuídas a esse ou aquele mestre, com objetivo de embasar
suas teorias marqueteiras e com isso, atraírem clientes para seus projetos de “crescimento
espiritual” “desenvolvimento quântico”, “saltos quânticos”, “constelações disso e daquilo”.
Antigos textos, teorias arcanas, têm sido adaptadas a uma linguagem atual e vendidos como a
panaceia de todos os males que atormentam os inseguros, os “buscadores de si mesmo”,
ávidos por milagres. E o pior, eles conseguem atrair esse séquito de ovelhas desavisadas. Eles
faturam alto!
Não sou contra os acadêmicos, ao contrário, os reverencio, mas abomino o academicismo.
Sabem por quê? Por que ele é inconsistente, teórico, oposto a vivência, em que pese tão
atraente em sua aparência pseudo erudita.
O porquê desse artigo? Pretendo que ele seja um alerta para os angustiados, deprimidos ou
deslumbrados e quiçá os preguiçosos, ávidos por “receitas de bolo”, que se deixam envolver
por discursos arrogantes, soberbos, egocêntricos. O grande milagre vem de dentro para fora,
da auto observação, do viver consciente. Nada se cria, floresce a não ser através da abertura
dos olhos da nossa alma. Cada vida é individual, intransferível.