E de repente ela, que é a alegria da casa, sagitariana brincalhona, vesga, gostosa, que nem mostra as garras, talvez por não saber-se gata, ficou doente.Triste, inapetente, barriguinha fervendo, jogada pelos cantos.
Foi a Rose, nossa secretária do lar que deu o alarme:
– Olha, gente, a Mia não tá legal, não saiu do mesmo lugar o dia inteiro.
Correria, Veterinária, exames e mais exames, nada… Clinicamente a neguinha não dava nem pinta do que estava acontecendo. A doutora Cássia, digna representante de São Francisco na Terra, aplicou alguns medicamentos e pediu que observássemos.
Duas noites sem dormir, observando a peluda amiguinha chateada, correndo de mim com medo do próximo remédio. Fiquei tão magoada…E a choradeira era inevitável.
Lembrei que ela, como digna ex-menina de rua, recolhida no Campo de Santana há oito anos atrás, tinha uma estranha mania de comer plástico. Liguei para a doutora: – Será um corpo estranho preso aos intestinos? Decidimos por uma ultrasonografia.
O doutor tinha uma cara boa, aliás como todos os da clínica. Aplicou uma beijoca no focinho da Mia, pediu desculpas pelo incômodo e, após raspar aquela barriga rosada, iniciou o exame.
Eu e Paula não tirávamos os olhos da tela e do doutor. Ele franzia a testa, balançava a cabeça, até quando decidiu arriscar um diagnóstico que acabou conosco:
– Ela está com dois linfomas ao lado do pâncreas. Pode ser apenas uma inflamação ou … CÂNCER!
Parou tudo. um buraco negro e abriu. Eu e Paula não conseguíamos imaginar que poderia mesmo ser a tal inflamação. No fundo de nossas cabeças a palavra maldita ressoava: CÂNCER, CÂNCER, CÂNCER!!!
– Não é justo! Eu gritava aos prantos.
– Ela nunca ficou doente!
– Não estou preparada para perde-la!
Paula era a máscara da dor. Chorava incontrolavelmente. Paulo nos acompanhou nas lágrimas.
Ainda seria preciso aguardar outros exames de laboratório para que a doutora fechasse um diagnóstico. Foi uma das piores noites da minha vida.
Pela manhã, veio a notícia: Era a inflamação. Não era CÂNCER!
Após um breve período de internação para uma soro-terapia onde a doutora-alquimista incluiu sabe Deus quantos ingredientes e também depois de duas injeções de anti-inflamatório, Mia voltou para nossa casa já bem melhor. Aos poucos voltou a comer, está fazendo umas gracinhas e, de vez em quando até me dá uma lambida, o que reacendeu a minha esperança de que está quase trocando de bem comigo.
E por que o título dessa crônica?
Enquanto atravessávamos esse inferno de Dante, eu pensei em fazer uma promessa pela recuperação da minha neguinha. Nem sou católica, mas nutro um afeto especial por algumas Senhoras como Aparecida, das Graças, Santana e, por conta disso, em minhas noites insones, chorando todas as lágrimas do mundo, declarei que, se Mia ficasse boa eu perderia dez quilos no prazo máximo de três meses.
Tive o meu estômago reduzido após uma longa jornada de sofrimento com a obesidade mórbida.
Perdi 67 quilos e hoje, cinco anos depois, recuperei, por total falta de autoestima e juízo, 15 quilos. Fiz algumas incursões tímidas em dietas, academias, mas, fato é que não me dediquei o suficiente. As comorbidades que me ameaçavam a minha vida e me levaram à ponta do bisturi, já estão se reapresentando lentamente – uma dor ali, uma pressão subindo acolá, um joelho falhando, as pernas dormentes e eu, nem tchum prá nada. É tão fácil se enganar…Se desgostar…
Foi preciso que um medo incalculável de perder um amor se instalasse, para que eu finalmente decidisse que já era hora de gostar mais de mim.
E aqui, fica a pergunta que não cala e que talvez já tenha passado por muitas cabeças:
Por que algumas vezes amamos, nos empenhamos até a raiz dos cabelos e nos sacrificamos, matamos e morremos por nossos queridos, esquecendo de nós mesmas?
Por que será que é tão difícil SE amar?
Até…
Prezada Glória, essa é a pergunta que mais me faço atualmente. Hoje, estou com 39 anos. Levei 36 anos para começar a entender que o meu amor precisa ser de fato dedicado a mim em primeiro lugar para que, somente depois, ele possa fluir para outras pessoas. Apesar de bastante retardada para entender esse conceito, hoje me conforto que é melhor entendê-lo, mesmo a partir dos 36 anos do que nunca ter entendido (pois acredito que alguns ainda morrem sem se amar como prioridade de vida). Portanto, antes tarde do que nunca. Porém, por que será que é tão difícil se amar, isso ainda não sei. Talvez pobre cultura, talvez formação dos pais. Eu, por exemplo, venho de uma família que sempre tentou agradar os estranhos antes de si mesmo.
O motivo da dificuldade ainda não sei ao certo, mas de uma coisa tenho certeza: EU ME AMO, EU ME AMO E NÃO POSSO MAIS VIVER SEM MIM!!!
Beijo enorme da sua fã:
Rosangela Pinho
Oi Gloria!
Ainda bem q sou otimista e pensei logo q estava lendo:-Tomara q seja apenas uma inflamaçãozinha de nada. Mia vai ficar boa!
E a “cenoura” faça o favor de entrar firme nessa dieta, hein?
Já bastam Pongo, Haroldo(chorrinhos das amigas Patricia e Malu), e o gatinho do meu sobrinho Flavio, Severino, que viraram estrelinhas recentemente.
bjs
Marta
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Boa Noite, Glória.
Esse texto não foi à toa.
Nossa, como tudo se encaixa.
Veja, o texto chegou pra mim ontem à noite.
Hoje no trabalho, tive uma mega decepção.
Se fosse em outras épocas, tinha ficado muito mais triste do que realmente fiquei hoje.
Não que eu tenha gostado, mas continuei trabalhando como se nada estivesse acontecendo.
Lembrei de vc e do seu texto de ontem.
E repetia para mim mesma: EU ME AMO. AFINAL, NÃO TENHO MAIS NADA CONTRA MIM MESMA.
É … Viver, dá um certo trabalhinho…
Beijo enorme.
Amiga querida,
Definitivamente, este é o melhor post do seu blog (até agora…). Fiquei com os olhos cheios lágrimas com a dor de sua família por conta da Mia, meu peito apertou e respirei aliviada ao ver que sua doce gatinha já está se recuperando. (Agora vou te contar: que intuição, hein? Pedir pra fazer uma ultra pensando que a bichinha podia ter ingerido plástico deve ter sido uma dica soprada por Chico de Assis em teu ouvido…)
Em seguida, vc conseguiu me balançar com a sua reflexão a respeito do amor que nutrimos pelos que nos cercam, mas que deixamos escapar por nós próprios… Você fez um fechamento sensacional ao seu post, costurando maravilhosamente a história da Mia com a sua própria história (a história da maioria de nós!!!).
Nossa, gostei tanto que vou reler agora, haha! E vou divulgar!
Parabéns, bruxinha! Te cuida! Vamos ver quem emagrece dez quilos primeiro, ahaha!!!!
Seu texto era o que eu precisava ler hj. Obrigado!
O amiga gloria obrigada pela mensagem no dia do meu niver 30 de abril, voce e um doce de pessoa.. eu continuo em busca da minha auto estima gostar mas de mim , mas ainda nao consegui sempre uso o coração em vez do cerebro é acabando me ferrando e sofrendo por amar de mais,e valorizando as pessoas que gosto geralmente pessoas que acabam me decepcionando..to tentando mudar mas ainda nao consegui ,, bjs amiga que bom ter esse cantinho pra desabafar..
Oi amiga gloria passando pra deixar um beijinho, todos os meses leio sua revista para acompanhar suas previsoes para meu signo,to sentindo falta de ouvir meu horoscopo na nativa de manhã bjs ju