De um tempo para cá, no mais perfeito estilo Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band da terceira idade, tenho me encontrado diariamente com novas amigas e um relutante exemplar do sexo masculino, na padaria Bela Guanabara, bem aqui em frente de casa. São pelo menos duas horas de conversas e gargalhadas desvairadas, sobre assuntos que podem variar de política até a mais descarada fofoca sobre os outros desavisados freqüentadores.
Bem, mas o clube já extrapolou os limites da padaria; um jantar aqui, um lauto brunch ali, uma festa de arromba acolá e, mais recentemente, um jogo de buraco aqui em casa. E é dele que vou falar.
Primeiro, uma explicação: Luisa, uma de nossas companheiras, morou quase a vida inteira na Austrália e voltou recentemente para acompanhar a mãezinha doente, que já foi para o Céu. Ela é uma mulher vigorosa, experiente, dona de um humor cáustico que eu adooooro. Só tem uma coisa: Fica completamente unplugged quando o assunto é o que chamamos de brasilidades. Não teve tempo para acompanhar a evolução artístico/cultural daqui e, de vez em quando, protagoniza cenas hilariantes ao comentar os seus gostos musicais:
-Ah, mas eu sou mesmo é fã do Dick Farney, da Dalva de Oliveira, Miltinho …
E haja risada.
A sincronicidade foi perfeita. Aquela tarde prometia. Imaginem que sai para comprar uma toalha especialmente para o grande evento e, qual não foi a minha surpresa, quando Rose, uma doce criatura, chegou esbaforida, mas toda animada, a bordo de um embrulho de presente:
– Olha o que eu comprei para você!
E não era a mesmíssima toalha que eu tinha ido buscar no shopping quase na mesma hora em que ela estava lá? Rimos muito!
Todo o buraco tem que ter comida, não é? E tínhamos! E bebidas também. Só não contava com a chegada de Tião, emérito fotógrafo, trazendo um saco amarelo que continha, nada mais nada menos do que duas Cocas sendo que uma, PELA METADE!
– Aimeudeus! Você trouxe uma coca usada? Eu não conseguia parar de rir.
– Foi, respondeu todo lampeiro, é que essa sobrou daquele jantar lá em casa há quinze dias. Você foi quem levou. Como não bebemos isso, trouxe também para ver se ainda está boa.
Informação aos cocólatras: Coca Cola bem fechada dura sim, por quinze dias com gás e tudo.
Bem, acepipes arrumados, toalha, baralho, papel e caneta a postos, começou a partida e…a loucura também.
Para alegrar o ambiente, deixei a tv a cabo ligada no canal de música – mpb, para agradar a todos.
Aconteceu de tudo: Babado, confusão e gritaria.
Uma conversa infindável entre os parceiros. Olhares significativos, dedinhos que se moviam safadamente apontando para que o outro comprasse ou não a mesa (não é, Tião?)
Isso, sem falar nos problemas técnicos: Um não enxergava o que o outro baixava sobre a mesa. Equilibrando os óculos, nos debruçávamos sobre a mesa na esperança de descobrir que seqüência era aquela. Na volta à cadeira, bundas doloridas reclamavam. Oh, idade!
A vontade de fofocar era maior do que o jogo e também patrocinou erros dignos de tapas na cara e prisão perpétua. Manja quando o seu parceiro está precisando de três cartas para completar uma canastra e o outro, alegremente baixa um jogo com as tão esperadas cartinhas, em OUTRA seqüência bem ali, ao lado da canastra falida? Oh, dor!
A tarde transcorria. E um nem sempre ouvia o que outro falava, não via o que a outra baixava, mas o riso rolava frouxo e só isso já pagava tudo . A esposa do Tião chegou e, sentada ao lado do marido, dava pitacos bem baixinho, do jeito que lhe é peculiar. O problema é que ela é tão fofa, que nem dava para a gente ficar zangada.
Vocês devem estar perguntando: E daí? Qualquer jogo de buraco é assim mesmo, qual foi a pièce de résistence que motivou esse post?
Lá pelas tantas, uma música antiga, dos Novos Baianos, começou a tocar na tv (lembram? Eu havia deixado a música ao fundo).
Quando dei por mim, vi que Maria Luisa cantarolava: “Preto é cú, preto é cu, preto é cu, preto é cu…
– Mas o que isso? Perguntei.
– Ué, não é assim que estão cantando? “preto é cu, preto é cu” Música animadinha, né?
Pronto. Ai o desbunde foi geral.
De tanto rir, Rose teve que ir ao banheiro. Eu, sem fôlego, não conseguia dizer nada. Tião, perplexo, não sabia se ria ou saia correndo. Cátia, fazia cara de paisagem, mas ficou vermelha como um tomate – tenho certeza de que estava morrendo de rir, mas, do seu jeitinho quieto. Quando afinal consegui me controlar, esclareci à querida ex-australiana:
– Luisa, o nome da música é BESTA É TU.
– Ah, eu não entendi direito, tem certeza?
Foi quando todos olhamos para a tela e ela, com os olhinhos apertados, leu o nome da música.
– É verdade! Eu achei que era assim mesmo, afinal, cú não é um lugar preto? Sei lá, essa gente é maluca…
Ta bom para vocês?
No dia seguinte, na mesma padaria, ainda ríamos da incrível tarde buraqueira quando, Rose, moça fina, bem criada e carinhosa, puxou um outro papo:
– Gente, eu vi um catálogo de fotos maravilhoso. Acho que era de um fotógrafo internacional. Algumas imagens eram surreais. Numa delas aparecia uma mulher caracterizada de Nossa Senhora, segurando no colo o Michel Jackson, no mais puro estilo daquele quadro, PIABETÁ, vocês conhecem?
– Conheço sim, devolveu Tião, na maior cara de pau, é do mesmo autor da Mandona, um tal de Botticelli.
Qualquer dia, ainda morro disso. Será que a gente enfarta de tanto rir? Tomara que não.
Até…
ADOREI a nova versao australiana da musica dos Novos Baianos……hahahahahahaha……agora so vou cantar assim!!! Com certeza o buraco e mais embaixo e preto!! hahahahahahah
Bisous
Adorei!!!! Ri muiiiiiiito!
bjs
Ótimo. Vou colocar o “Besta é tú” no meu facebook. Abração do Formiga
Detesto jogar buraco porque sempre tem um mané que acha que aquele jogo é PRA VALER e daí começa a xingar, a brigar… um saco! Se eu tivesse a garantia de que todos os jogos de buraco fossem como o da sua casa, iria a todos amarradona!!!! Rir é o melhor remédio!
Glória, sensacional o título da crônica (o buraco é mais embaixo = preto é cu, kkkkkkkkkkk!!!!).
Beijos imensos!