Ontem, enquanto esperava, numa esquina movimentada do Rio de Janeiro, percebi que um mendigo atravessava a rua me olhando fixamente. Tinha até uma cara boa, mas, como gato escaldado nessa cidade tão perigosa, fiquei em guarda.
Ele chegou diante de mim e com seus olhos verdes e doces, disse estar faminto, logo me advertindo que não era ladrão nem viciado, queria apenas uma ajuda para comer. – Qualquer moedinha serve, minha senhora.
Penalizada, saquei um trocado de dentro da bolsa e ofereci ao rapaz. Ela ficou encantado ao ver que era bem mais que uma moedinha e que poderia matar a fome que o consumia. Olhando bem no meu rosto, encoberto por grandes óculos escuros, disse:
– Muito obrigado. E depois: Será que posso lhe dar um abraço? É que a senhora parece tanto com a minha avó que já morreu…
Como negar? Me deixei envolver em braços calorosos e um tanto fedidos, cheiro das ruas, das noites dormidas nas calçadas da Rio Branco. E foi tão bom…Era um abraço fraterno, apertado, cheio de gratidão. Me deixei ficar ali, como se nada mais existisse, aproveitando aquele momento abençoado.
Foi quando, para minha surpresa, ele segredou ao meu ouvido:
– Jesus vai curar a senhora.
– ???????
Como ele podia saber que eu estava ainda doente? Como adivinhou que, por trás das lentes, havia ainda uma cicatriz dolorida da cirurgia recente?
– Obrigada, moço. Agora vá comer.
Ele agradeceu novamente, me dirigiu um sorriso e saiu. Foi quando eu o chamei de volta:
– Moço, como é o seu nome?
– Rafael.
Rafael – Arcanjo da Cura – Cura de Deus.
Fiquei perplexa.
Ali, parada naquela esquina da cidade, numa tarde fria, emocionada e sentindo na alma um pouco da solidão daquele rapaz. chorei, escondida pelos óculos escuros, antes de embarcar no carro que havia chegado para me buscar. Trouxe para casa a bênção do anjo e pensando bem, acho que aquele braços, na verdade eram asas quentinhas que me acolheram.