Há pouco estive em São Paulo. Sempre adorei a cidade, afinal sou paulistana, mas dessa vez foi de lascar. O trânsito está ficando impraticável e você precisa empreender praticamente uma operação militar só para mudar de mão na avenida Nove de Julho.
A bordo do carro da Aninha, dublê de editora e amiga, rumávamos para mais um eletrizante episódio “Visitando Joaquim”. Pois é, gente, o Morumbi, não fica ali. É longe prá diabo e o Joaquim se esconde no fim do mundo, agora numa das mais lindas casas que eu já vi. Acho que é de propósito, para só receber quem realmente vale a pena. Bem, mas voltemos à aventura.
Era uma avenida interminável. Eu me lembrava apenas de uma referência, a agência de carros do outro lado da rua. Ana, nem disso. No caminho, fizemos a nossa reunião de trabalho e entre papéis e envelopes, o carro seguia quase sozinho rumo ao seu destino…ou não.
– Glorinha, acho que estamos perdidas, murmurou Ana com seu jeitinho delicado.
– Eu me lembro de uma agência de carros. Foi depois dela que fizemos o retorno naquele outro dia.
E rodamos, rodamos, rodamos tanto, que fiz uma proposta à preclara editora:
– Seguinte: Esqueça essa reunião. Vamos para Curitiba. Daqui para lá é um pulo.
Ela riu, mas os seus olhinhos brilharam. Eu juro que ela também queria.
Decidimos parar e ligar para o Joaquim. E sabem onde foi? Na porta de um cemitério!
– É melhor assim, Glorinha, pelo menos é um ponto de referência bom.
Joaquim foi solícito e fez o papel de um luxuoso GPS de olhos azuis, guiando a minha amiga através do celular. E lá fomos nós, até que Ana se tocou que deveria fazer um balão inesperado. Como um Felipe Massa de saias, deu uma virada radical no volante, avançou o sinal, se jogou no outro canto da pista e … chegamos!
A reunião foi muito legal, mas não é disso que estamos falando, né?
A VOLTA
Agora, tudo nos parecia mais fácil, afinal, era só voltar pelo mesmo caminho. Mas o destino ainda brincava conosco e decidi me hospedar num hotel na avenida Nove de Julho.
Rodamos, rodamos e rodamos. A avenida parecia tão distante quanto o Olimpo de Zeus. Finalmente, uma luz: A placa indicava o caminho. Rodamos, rodamos e rodamos e….caímos em outra avenida. Ana, coitada, olhava as placas e entrava em ruas vazias, que não nos levavam a lugar nenhum.
– Pelo menos o trânsito está legal, né, Glorinha?
E entrava em outra rua vazia, alegre por conseguir andar, finalmente, a mais de 10km por hora.
– Olha só que legal, heim? Tudo livre!
– Sim, Ana, mas qual dessas ruas vai nos levar à Nove de Julho?
– Ainda não sei, mas a gente chega lá.
De repente, percebi que o objetivo não era mais a avenida. Em seu subconsciente atarefado, minha amiga nem se importava mais em chegar e sim em dirigir naquelas ruas tranquilas. Animadona, ela rodou até que finalmente, entramos na bendita:
– Pronto, conseguimos, Glorinha! Só que o hotel é do outro lado da avenida, agora a gente pega aquele retorno e….NOS PERDEMOS NOVAMENTE!!!
Como pode uma cidade, onde o retorno não retorna? PQP !!!
Mais algumas ruas engarrafadas depois, finalmente entramos na mão certa e eu rezava para que nada mais acontecesse, preocupada que estava com o horário da minha amiga.
Chegamos. Amém!
Acho que assim também é na vida. Caminhamos engarrafados por toda a sorte de eventos; trabalho, família, amigos, gostos, desgostos, perdas, lucros, idade, doenças. Entramos na contra-mão, avançamos sinais, enveredamos por estradas longas e cheias de desafios, buscamos atalhos e, com sorte, pegamos uma onda verde.
De vez em quando, ficamos um tempo mergulhados em paz, como naquelas ruas vazias e tudo parece acontecer com facilidade. Deve ser a tal de Zona de Conforto, expressão tão em moda.
Felizes da vida, esquecemos de tudo e paramos o relógio, para desfrutar aqueles raros momentos de tranquilidade. O destino, não interessa mais, o que importa é a viagem por ruas vazias, dirigindo a mais de 10km por hora.
É, mas dura pouco. Logo, logo, a vida chama para o Morumbi, para a Nove de Julho e nós, obedientemente, atendemos as suas ordens, até chegarmos na porta do cemitério…ou não!
Um beijo, Ana, até a próxima!
Sua crônica fiel me levou às gargalhadas, amiga! Com tudo isso (ou por tudo isso), São Paulo é mágica, não é? Já estou te esperando por aqui novamente! Bjs. Ana
Glóriaaaaaaa! Nem tudo é perfeito em vc, mulher! Paulista, hein? Quem diria!!! rsrsrs!
Gostei muito da comparação do trânsito com as nossas vidas. Tenho me sentindo um pouco na zona de conforto, mas ciente da necessidade de ter que encarar a 9 de julho o quanto antes. Tomara que eu entre nas ruas certas e não precise pegar retornos!
E pra vc, querida, desejo sempre que o FAROL (kkkk!) esteja verde!
Beijos grandes!
Nossa, que prazer ter as duas Anas por aqui, uma do Rio, outra de Sampa, ambas igualmente gente da melhor qualidade. Apareçam sempre, viu?